Conheci um rapaz,
lindo, gentil, inteligente que esconde uma tristeza, o abandono, a falta de
sentido dentro de si.
Ele esta
sempre carregando um saco preto nas costas, um dia, sem querer, deixou cair o
saco e vi quatro espadas que estavam incrustadas em suas costas.
Olhei seus
olhos e compreendi, às vezes doía muito, às vezes ele esquecia.
Soube, depois,
que foi em uma briga por sua honra, como não conseguiu mantê-la, apesar de não
entender o porquê deveria defendê-la, já que sempre fora honrado. Na ocasião
quatro cavaleiros desonrrados incrustaram cada um uma espada no rapaz, sem
aviso, somente porque queriam que sua honra fosse manchada, simplesmente para o
prazer, incompreensível para mim, dos quatro.
Desde então, o
garoto anda com as espadas, vivi com ele algum tempo, percebi que algumas vezes
ele se esforça e faz com que as espadas quase saiam de si, em outras, fraqueja
e permite que entrem lá no fundo da carne, doendo e rememorando a dor original.
O garoto foi
abandonado, encontrado, cuidado, diferenciado, sempre estranho. Só depois marcado
com as quatro espadas.
Uma vez um
pobre mendigo tentou arrancar as espadas do rapaz, ele no inicio, receoso, não
deixou, mas depois foi adquirindo afeto ao mendigo e permitindo que ele
chegasse perto das espadas. O mendigo nunca pôs as mãos nas espadas, achava que
não deveria, apenas fazia com que o rapaz empurrasse para fora de si as
espadas, mas quando iam cair, o rapaz
fraquejava e voltava a permitir que as espadas adentrassem sua carne.
O mendigo
ficou muito tempo à espera da vontade e da coragem do rapaz, mas o medo do
rapaz foi crescendo, sua confiança no mendigo fraquejando e por isso o rapaz
fugiu do mendigo.
O rapaz não conseguia compreender que não
conseguia fugir do mendigo, mas de si mesmo, de enfrentar as espadas,
porque os quatro cavaleiros não estavam mais lá, mas tinham deixado suas
marcas, para sempre. Eram preciso afastar as espadas e fazer as pazes com as cicatrizes, aprendendo a lidar com estas dores e marcas.
De vez em
quando o rapaz consultava oráculos, eles faziam que ele ouvisse a voz da lógica, do que
era correto...mas há o que é correto para o coração? Para a dor? Para o alívio?
Para
evitar a dor, o rapaz fica com as espadas nas costas...as vezes esquecendo
delas, fugindo da dor...outras enfrentando elas, conhecendo a si mesmo na dor.
O rapaz fica,
então, na dor para evitar outra dor.
Tenho esperanças que um dia o rapaz deixe
as espadas saírem da carne e caírem no chão, apazigue as feridas, limpe-as e
cuide-as...só assim, a dor irá embora, e ele se preparará para enfrentar as
outras que possui, e sem espadas para atrapalhar conhecerá o que é viver o prazer e ter o
prazer de viver.
É o que deseja
este mendigo, necessitado de amor, que carrega agora um saco preto vazio, com as marcas das espadas de outro...
Ederson Ribeiro Costa, ao som do silêncio, e do murmúrio da solidão dentro de si, as 02h37m.