Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora.
Eu queria ser trapezista,
minha paixão era o trapézio.
Me atirava do alto na certeza que
alguém segurava-me as mãos não me deixando cair. Era lindo
mas eu morria de medo, tinha medo de tudo quase: cinema, parque de diversão,
de circo, ciganos, aquela gente encostada que chegava e seguia. Era disso que
eu tinha medo.
Do que não ficava pra sempre.
Era outra vez outro parque, outro circo, ciganos e patinadores.
Era outra vez outro parque, outro circo, ciganos e patinadores.
O circo chegou
a cidade, era uma tarde de sonhos e eu corri até lá.
Os artistas
se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo e eu entrei
no meio deles e falei que queria ser trapezista.
Veio falar comigo uma moça
do circo que era a domadora, era uma moça bonita, mas era uma moça
forte, era uma moçona mesmo. Me olhou, riu um pouco e disse que era muito
difícil mas que nada era impossível.
Depois veio o palhaço
Polly, veio o Topsy, veio Diderlang que parecia um príncipe, o dono do
circo, as crianças, o público...
De repente apareceu uma luz lá
no alto e todo mundo ficou olhando, a lona do circo tinha sumido e o que eu
via era a estrela Dalva no céu aberto. Quando eu cansei de ficar olhando pro alto e fui olhar pras pessoas, só
aí eu vi que estava sozinha.
Texto de Antônio Bivar
Extraído do Disco Drama 3°Ato - 1973 de Maria Bethânia
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