"Perdi-me dentro de mim Porque eu era labirinto E hoje, quando me sinto, É com saudades de mim."

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O rapaz com quatro espadas nas costas.


Conheci um rapaz, lindo, gentil, inteligente que esconde uma tristeza, o abandono, a falta de sentido dentro de si.
Ele esta sempre carregando um saco preto nas costas, um dia, sem querer, deixou cair o saco e vi quatro espadas que estavam incrustadas em suas costas.
Olhei seus olhos e compreendi, às vezes doía muito, às vezes ele esquecia.
Soube, depois, que foi em uma briga por sua honra, como não conseguiu mantê-la, apesar de não entender o porquê deveria defendê-la, já que sempre fora honrado. Na ocasião quatro cavaleiros desonrrados incrustaram cada um uma espada no rapaz, sem aviso, somente porque queriam que sua honra fosse manchada, simplesmente para o prazer, incompreensível para mim, dos quatro.
Desde então, o garoto anda com as espadas, vivi com ele algum tempo, percebi que algumas vezes ele se esforça e faz com que as espadas quase saiam de si, em outras, fraqueja e permite que entrem lá no fundo da carne, doendo e rememorando a dor original.
O garoto foi abandonado, encontrado, cuidado, diferenciado, sempre estranho. Só depois marcado com as quatro espadas.
Uma vez um pobre mendigo tentou arrancar as espadas do rapaz, ele no inicio, receoso, não deixou, mas depois foi adquirindo afeto ao mendigo e permitindo que ele chegasse perto das espadas. O mendigo nunca pôs as mãos nas espadas, achava que não deveria, apenas fazia com que o rapaz empurrasse para fora de si as espadas, mas quando iam cair, o  rapaz fraquejava e voltava a permitir que as espadas adentrassem sua carne.
O mendigo ficou muito tempo à espera da vontade e da coragem do rapaz, mas o medo do rapaz foi crescendo, sua confiança no mendigo fraquejando e por isso o rapaz fugiu do mendigo.
O rapaz não conseguia compreender que não conseguia fugir do mendigo, mas de si mesmo, de enfrentar as espadas, porque os quatro cavaleiros não estavam mais lá, mas tinham deixado suas marcas, para sempre. Eram preciso afastar as espadas e fazer as pazes com as cicatrizes, aprendendo a lidar com estas dores e marcas.
De vez em quando o rapaz consultava oráculos, eles faziam que ele ouvisse a voz da lógica, do que era correto...mas há o que é correto para o coração? Para a dor? Para o alívio?
Para evitar a dor, o rapaz fica com as espadas nas costas...as vezes esquecendo delas, fugindo da dor...outras enfrentando elas, conhecendo a si mesmo na dor.
O rapaz fica, então, na dor para evitar outra dor. 
Tenho esperanças que um dia o rapaz deixe as espadas saírem da carne e caírem no chão, apazigue as feridas, limpe-as e cuide-as...só assim, a dor irá embora, e ele se preparará para enfrentar as outras que possui, e sem espadas para atrapalhar conhecerá o que é viver o prazer e ter o prazer de viver.
É o que deseja este mendigo, necessitado de amor, que carrega agora um saco preto vazio, com as marcas das espadas de outro...

Ederson Ribeiro Costa, ao som do silêncio, e do murmúrio da solidão dentro de si, as 02h37m.

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