"Perdi-me dentro de mim Porque eu era labirinto E hoje, quando me sinto, É com saudades de mim."

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Arte e Psicologia

Arte e Psicologia
Por Ederson Ribeiro Costa
Está havendo uma revolução ética e uma procura de novos caminhos para as psicologias (mesmo que tímida e discreta), que conclui antes de tudo que a consciência não é somente uma coisa ou outra, mas construída pela razão e também pela emoção e afetos.
Você me perguntaria: e onde entra a arte nessa história?
A arte entra como algo que aproxima o indivíduo do mundo como um todo, produto universal histórico e sua vertente de trabalho é, entre outras, a emoção.
A emoção identifica o indivíduo com o resto da humanidade de alguma forma. Na verdade ela aproxima-nos de uma cultura ou outra, de uma forma de arte, de expressão ou outras.
A emoção pode ser artística, com sensibilidade, algo que transita internamente por nós e de acordo com alguns autores tem um caráter universal e uma linguagem diferenciada, aquela que de uma forma ou outra chega a estabelecer um contato, uma relação com a obra.
O artista fala mais facilmente das emoções, Vigotsky fala que a percepção estética passa por um processo catártico quando você se depara com a contradição entre forma e conteúdo na obra de arte. O que se tem visto por aí não é muito diferente, e volto a afirmar que o processo criativo, que é uma condição essencialmente individual, se dá através da emoção e do gosto estético de cada um. Porém não se pode e não se deve esquecer que todos esses fatores, principalmente o gosto estético, são formados historicamente, socialmente e culturalmente centrado no contexto vivencial deste indivíduo.
Você pode estar se perguntando novamente: Espere aí. Quer dizer que a minha arte está vinculada com o processo social, histórico e cultural do qual estou inserido?
Sim! É isso mesmo. Mais que isso, é afirmar que não há nada que seja produzido pelo artista e não seja comprometido ideologicamente. E a ideologia dele também é comprometido e construída a partir do processo histórico, social, cultural e etc.
Viu só, amigo leitor, estamos emaranhados num processo cíclico e infinito de comprometimento de construção social, até nossa individualidade provavelmente não existiria sem isso.
Funciona assim, imagine um grande espetáculo em que você faça parte. Algumas vezes você protagoniza as cenas (o processo), outras você só figura (quando você vivencia as conseqüências destas intervenções em que você também teve parte) e sendo ator do espetáculo não há como assisti-lo como espectador. Você faz parte desse processo e pronto. Para mudar o processo você terá que protagonizar novamente e conseguir adesões nesse processo para a mudança.
O que a arte nos dá como material para isso? A arte é a expressão deste processo comprometido com todos os demais, ela expressa a emoção desse artista – povo – indivíduo como algo não fragmentado e sim um todo. Junta assim a emoção e a percepção.
Não é o simples ato de reproduzir, é de produzir. De acordo com Vigotsky o que ao artista cria está comprometido com o que o processo histórico está te oferecendo, na verdade é a impressão desse momento e processo histórico. Mas algo de novo tem de ser criado e isso é arte, quem reproduz não faz arte, só copia, não expõe emoções, não fala do processo de criação, do momento constituído da vida cotidiana, da social e da histórica.
A Psicologia tem (ou deveria ter) esse comprometimento, principalmente por lidar com o indivíduo, principalmente, por ser a única ciência a lidar dentro das ciências humanas com o indivíduo. A Psicologia tem que, como a arte, falar uma linguagem simples e verdadeira. Essa linguagem tem que ser acessível a todo mundo para comunicar o conhecimento, o nosso conhecimento científico de Psicologia. A nossa obrigação, então, como cientistas é ajudar esta população, da escola, da periferia, da favela, enfim toda e qualquer a ter conhecimento de si mesma. O nosso compromisso é com a população e não com a academia. Temos que ver a academia como instrumento de aperfeiçoamento e construção pela e para a população.
Temos que fazer e refazer o paradigma da psicologia no dia a dia de nossos atendimentos, estudos e vida. Devemos seguir o exemplo da arte que constantemente faz críticas aos paradigmas diversos, incluindo o dela mesma: O que é arte? Isso pode ou não ser considerado arte?
E esse meu texto, é arte? Se você respondeu que não ou que sim temos que prestar atenção de que arte estamos falando, e não é da arte sinônimo de traquinagem e sim da obra, da expressão de arte, comprometida, é claro, com esse processo e imprimindo o momento histórico e social que estamos, eu e você, vivendo e construindo.
E aí? Que tal fazermos uma reflexão com uma postura hermenêutica em relação a isso?

Te espero na próxima! E se você quiser pode me dizer o que pensa sobre tudo isso.
Baseado na entrevista com Silvia T. Maurer Lane: “Parar para pensar...E depois fazer!”
Psicologia E Sociedade; 8(1): 3-15; jan./jun.1996.

Publicado inicialmente em: COSTA, E. R. . Arte e psicologia. Araçatuba - SP: Impresso Integração Artes Gráficas, 2002 (Jornal Universitário). 

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ufa! Eis porque compreendo grande sintonia ao pensamento do Professor Ederson...
    Queria que aqueles com quem "brinco de fazer teatro" pudessem não somente ler isso - porque é um acadêmico que nos traz - e na sequência pudesse por em prática!
    Mas, para isso deveria haver comprometimento, né?
    Porém, assim como o Oswaldo Montenegro, acredito que a arte nos apontará um caminho.

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  3. É, meu amigo, eu também, apontará, eu que era ator e agora acadêmica, estou aqui, comprometido com isso...acho que volta a produzir algum teatro este ano...terás noticias teatrais minhas.

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  4. aguardo suas inserções teatrais
    adoro trocar figuinhas
    =D

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  5. Olá colega. Talvez vc se interesse pela Jornada que iremos promover aqui na UNESP, Campus de Assis, no dia 03 de agosto. Veja o link para maiores detalhes e, se puder, ajude-nos a divulgar. Obrigado. Fernando

    http://artegeneropsicologia.weebly.com/index.html

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