Então...é assim?
Como é estranho
Tanto medo (?)
E a morte é o nada.
Vou contar se é que
Há como descrever.
É um imenso nada.
Vazio, como o espaço.
Sem paredes mas delimitado
Uma mescla de escuridão
Com penumbra e ao longe
Bem longe, quase infindável,
Uma porta luminosa.
Não há neblina como
Quando eu era vivo!
Agora é límpido,
Escuro e vazio.
Agora posso ver,
Estou no centro
Se é que há.
Imóvel na penumbra,
Não choro, não odeio,...não vivo,
Mas verdadeiramente não morro.
Vejo tudo o que há.
O tudo e o nada que
São a mesma maldita coisa.
Olho nos olhos do outro
Profundamente...
Quanta dor, quanto medo,
Quanto eu mesmo
Nesse espelho.
Foi olhando nesses olhos que morri.
Deu-se um estrondo,
Algo inexplicável aconteceu.
A neblina foi baixando,
E mais uma vez pude ver
Além dos olhos...
O outro tentou me ver
Mas não havia nem dor sequer.
Só os iluminados
Podem ver as verdades
Internas do outro,
Porque conhece as suas.
Morri ali...sem nada.
Nem dor, nem medo,
Não havia nenhum sentido.
Acabou-se todo o sentimento.
Só restou o amor,
Esse não morre,
Quem morre são seus instantes.
Não havia paramédicos,
Não havia pedidos de socorro,
Só o silêncio
E o sorriso da morte,
Nem triste nem feliz...
Só sorriso.
Talvez que o outro quisesse me salvar,
Mas não tive como deixá-lo
Mergulhar em mim por meus olhos.
Meu olhar perdeu-se no abismo
Do seu olhar que fazia arder.
Não restava nada ali,
Só meu amor
Verdadeiro bem o sabe...
Bem o sei.
Ouviu-se a voz abafada
Do calar que gritava
Rompendo o silêncio.
Aqui jaz a razão da
Vontade de lutar
Pelo amor do outro.
Não deixou esperanças.
Será velado pela eternidade.
O enterro será no cemitério
Da piedade pelo outro,
Será as escondidas...
Talvez, para sempre.
Assim, será ele:
O atestado de óbito
Da vontade da razão
De esperar amar e ser amado.
Isso morreu e eu fui
Deixado vivo,
Tenho medo que eu
Tenha morrido
E não saiba disso.
Será?
Enquanto isso se ouvia
Seus medos,
Suas angústias,
Suas dúvidas...
E agora ouço
O que há de mais profundo em você.
O eco do choro virginal...
Do seu choro...
Dentro de mim.
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